Vilarinho das Furnas, Terras do Bouro (Braga)

Situada no Gerês, a aldeia comunitária de Vilarinho das Furnas (freguesia de S. João do Campo, concelho de Terras do Bouro, distrito de Braga), foi submersa com o enchimento da barragem (inaugurada em 21 de Maio de 1972) que lhe tomou o nome. Ali viviam 52 famílias (também vi referido que eram 57) que na altura tiveram que abandonar as habitações e campos de cultivo.
A aldeia era constituída por um aglomerado de casas construídas em granito, geralmente constituídas por dois pisos sobrepostos e independentes. Ao nível da rua ficava a "loja", onde se guardavam o gado, as alfaias agrícolas e o produto das colheitas. No piso superior era a habitação onde ficavam a cozinha e os quartos. Grande parte do mobiliário, bastante modesto, era de fabrico caseiro, enquanto que loiças, talheres, candeeiros, etc eram comprados a vendedores ambulantes que por aqui passavam com regularidade ou em feiras.
Vilarinho das Furnas teve foral em 1218! O seu isolamento e difíceis condições de subsistência levaram a uma intensa vida comunitária. Na aldeia existia democracia, um Juiz (ou Zelador) governava uma espécie de assembleia e o povo elegia seis homens que legislavam. Semanalmente, normalmente à quinta feira, fazia-se uma reunião para resolver os problemas da aldeia (estes problemas giravam à volta da construção e/ou reparação dos caminhos, muros e pontes de serventia comum, da organização pastoril, da organização dos trabalhos agrícolas (colheitas, malhadas, desfolhadas, vindimas...), da distribuição das águas para rega, etc.). Para além do acatamento das leis vigentes no País havia em Vilarinho leis internas, que eram respeitadas e cumpridas. Ao Juiz cabia julgar todos os crimes, com excepção dos homicídios, por serem da competência dos tribunais.
Em 1985 foi fundada a Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho das Furnas que entretanto criou o Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, construído com pedras da aldeia.
De longe a longe, em anos de grande seca ou quando é necessário esvaziar a barragem para reparações, a água baixa e a aldeia (ou que resta dela), qual fantasma, volta a aparecer ao olhar de todos. É um cenário único. As paredes (já não há telhados) de granito surgem perante nós. É pedra sobre pedra, com raros vestígios de argamassa a uni-las. Nestas alturas (raras, volto a dizê-lo) surgem ao nosso olhar as paredes, as ruelas, as escadas e os espaços vazios onde existiram as janelas e as portas, até mesmo os lagares, tanques e lareiras ficam visíveis para lembrar histórias de outros tempos...
NOTA: As fotos que mostro são de Abril de 2005 e resultaram da digitalização de fotos (analógicas) tiradas na altura.

























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2 comentários:

Rapozo disse...

Bom trabalho de reportagem e um excelente texto de apresentação. Vou fazer referência. Talvez um destes dias nos encontremos por aí...

Glória Vilbro disse...

Sabe que acho encantador o cuidado que o Taborda tem em não só apresentar as fotografias, mas também dar tanta informação interessante!
Deve ser uma sensação estranha ver assim surgir do passado uma cidade em ruínas... Assim parecido com visitar um lugar assombrado. Quantas recordações não estarão por entre aquelas pedras? Quantos sonhos, quantos testemunhos? Arrepia um bocadinho.
Gostei, de uma forma diferente das outras reportagens suas.